segunda-feira, 4 de maio de 2009

Alexandre era um cara ordinário, vivia igual todos os outros flanelinhas da região. A história dele se repete em inúmeros casos de homens como ele pelo Brasil a fora.
É um homem esquecido, batalhador e além de tudo humano. Humano por errar mais que acertar. É tão digno de admiração quanto um ser humano comum.
Alexandre dorme todos os dias com sua filha pequena e mulher em seu casarão, em frente ao depósito de lixo, abandonado. Acorda todos os dias como sempre acordou. Sua vida nunca muda. Acorda mais feliz quando consegue transar com a esposa, essas manhãs felizes são escassas pois na maioria dos dias não vai dormir bêbado. E mesmo bêbado não é sempre ao amor que Alexandre recorre. Quando não diz que a ama e a quer, diz que a odeia e que vai cortar a cabeça dela fora com seu facão, imaginário.
Alexandre poderia passar o dia todo imaginando como seria a vida dele se ele tivesse tido uma oportunidade de mudar, mas ele prefere não pensar nisso, pelo menos assim esconde a infelicidade de si mesmo. Além de desvio de pensamento, Alexandre também recorre ao alcool, ao crack e às discussões com a esposa para se sentir mais feliz, ou apenas aliviar o peso que a exclusão da sociedade põe sobre ele.
Na vizinhança ninguém tem nada contra Alexandre. Os mais conservadores teriam se soubessem que ele trafica drogas casualmente, mas sempre em pequenas quantidades. Quando bêbado Alexandre esquece que não toma banho já faz um tempo, esquece também que está sempre com roupas sujas e despenteado. Entorpecido por esse chá de esquecimento, que chamamos de cerveja, Alexandre se transforma num homem mais extrovertido que o normal. Está sempre se agarrando com os conhecidos no meio da rua, contando casos da vida dele. Em geral conta sobre os "preiboi" ou "puliça" que batem nele frequentemente, mas claro, Alexandre está bêbado até quando isso acontece. Alexandre não passa de mais um em milhões que não têm chance de se incluir na sociedade, Alexandre vive à margem, e mesmo assim Alexandre tem honestidade como princípio.

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